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O filósofo Michel Foucault deixou inscrito uma das mais belas
profecias sobre o “cuidado de si”. Uma ética política sobre a história
da sexualidade, incluída a morte. A problemática da governamentalidade
fora retomada no “resumo dos cursos do College de France” (1970-1984):
“gostaria de me insinuar sub-repticiamente no discurso que devo
pronunciar hoje, e nos que deverei pronunciar aqui, talvez durante dez
anos”. Veio a falecer em 25 de junho de 1984, “quando seu estado de
saúde não mais lhe permitia prepará-los”.
Salvo engano, nenhum
sistema de pensamento em tão pouco tempo, obteve repercussão tão ampla e
evidente, do ponto de vista da mudança de simbólica, a partir de temas
como: a crítica da razão governamental, a analítica do poder, sobre as
relações “espaço-tempo” e “poder-saber”, “estética da existência” e
“experimento moral”, e mesmo entre o “império do olhar” e a “arte de
ver”. É impossível esquecer a tese segundo a qual “a visibilidade é uma
armadilha” numa sociedade que “canceriza” a vista a través do poder
disciplinar.
O estudo dedicado ao “cuidado de si” teve como
referência Alcibíades, retratado pelo pintor Pedro Américo em 1865.
Nele, as questões dizem respeito ao “cuidado de si” com a política, com a
pedagogia e com o conhecimento de si. Sócrates recomendava a Alcibíades
que aproveitasse a sua juventude para ocupar-se de si mesmo, pois, “com
50 anos, seria tarde demais”. Mas isso, numa relação que diz respeito
talvez ao “enamoramento”, na acepção de Francesco Alberone e que não
pode “ocupar-se de si” sem a ajuda do outro.
Contudo, é no
discurso dedicado à formação da “hermenêutica de si” (1981-1982) que
Foucault pretendeu estudá-lo “não somente em suas formulações teóricas,
mas de analisá-lo em relação ao conjunto de práticas que tiveram uma
grande importância na Antigüidade clássica ou tardia”. Isto porque, para
ele, esse princípio de “ocupar-se de si”, de “cuidar-se de si mesmo”
estão associados.
O exercício da morte, tal como fora evocado por
Sêneca, consiste em viver a longa duração da vida como se fosse tão
curta quanto um dia e viver cada dia como se a vida inteira coubesse
nele; todas as manhãs, deve-se estar na infância da vida, mas deve-se
viver toda a duração do dia como se a noite fosse o momento da morte. Na
hora de ir dormir, afirma na Carta 12, digamos com alegria, com um
sorriso: “eu vivi”.
Isto quer dizer que através dos exercícios de
abstinência e de domínio que constituem a askesis necessária, o lugar
atribuído ao conhecimento de si torna-se mais importante: a tarefa de se
pôr à prova, de se examinar, de controlar-se numa série de exercícios
bem definidos, coloca a questão da verdade – da verdade do que se é, do
que se faz e do que é capaz de fazer – no cerne da constituição do
sujeito moral. E, finalmente, o ponto de chegada dessa elaboração é
ainda e sempre definido pela soberania do indivíduo sobre si mesmo; mas
essa soberania amplia-se numa experiência onde a relação consigo mesmo
assume a forma, não somente de uma dominação “mas de um gozo sem desejo e
sem perturbação”.
Nesse lento desenvolvimento da arte de viver
sob o signo do “cuidado de si”, os dois primeiros séculos da época
imperial podem ser considerados como o ápice de uma curva: uma espécie
de idade de ouro na cultura de si, sendo subentendido, evidentemente,
que esse fenômeno só concerne aos grupos sociais, bem limitados em
número, que eram portadores de cultura e para os quais uma techne tou
biou podia ter um sentido e uma realidade: ou seja, “aqueles que querem
salvar-se devem viver cuidando-se sem cessar”. Ademais, é conhecida a
amplitude tomada em Sêneca pelo tema da aplicação a si próprio: é para
consagrar-se a esta que é preciso renunciar às outras ocupações:
poder-se-ia desse modo tornar-se disponível para si próprio. Sêneca
dispõe de todo um vocabulário para designar as diferentes formas que o
cuidado de si deve tomar e a pressa com a qual se procura unir-se a si
mesmo. Apressa-te pois para o objetivo: “dize adeus às esperanças vãs,
acorre em tua própria ajuda se te lembras de ti mesmo, enquanto ainda é
possível”.
Portanto, é possível dizer que não há idade para se
ocupar consigo. Dizia Epicuro: "Quando se é jovem, não se pode evitar de filosofar e, quando se é velho, não se deve cansar de filosofar. Nunca é muito cedo ou muito tarde para cuidar de sua alma. Aquele que diz que não é ainda, ou que não é mais tempo de filosofar, parece àquele que diz que não é ainda, ou não é mais tempo de atingir a felicidade. Deve-se, então, filosofar quando se é jovem e quando se é velho, no segundo caso (...) para rejuvenescer ao contato do bem, pelas lembranças dos dias passados, e no primeiro caso (...) afim de ser, ainda que jovem, tão firme quanto um velho diante do futuro". Aprender a viver a vida
inteira era um aforismo citado por Sêneca e que convida a transformar a
existência numa espécie de exercício permanente; e mesmo que seja bom
começar cedo, é importante jamais relaxar.
Mas há uma
advertência: “é preciso tempo para isso”. E é um dos grandes problemas
dessa cultura de si, fixar, no decorrer do dia ou da vida, a parte que
convém consagrar-lhe. Recorre-se a muitas fórmulas diversas. Pode-se
reservar, à noite ou de manhã, alguns momentos de recolhimento para o
exame daquilo que se fez, para a memorização de certos princípios úteis,
para o exame do dia transcorrido; o exame matinal e vesperal dos
pitagóricos se encontra, sem dúvida com conteúdos diferentes, nos
estóicos; Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio, fazem referência a esses
momentos que se deve consagrar a voltar-se para si mesmo.
Pode-se
também interromper de tempos em tempos as próprias atividades
ordinárias e fazer um desses retiros que Musonius, dentre outros,
recomendava vivamente: eles permitem ficar face a face consigo mesmo,
recolher o próprio passado, colocar diante de si o conjunto da vida
transcorrida, familiarizar-se, através da leitura, com os preceitos e os
exemplos nos quais se quer inspirar e encontrar, graças a uma vida
examinada, os princípios essenciais de uma conduta racional. É possível
ainda, no meio ou no fim da própria carreira, livrar-se de suas diversas
atividades e, aproveitando esse declínio da idade onde os desejos ficam
aparentemente apaziguados, consagrar-se inteiramente, como Sêneca, no
trabalho filosófico ou, como Spurrima, na calma de uma existência
agradável, “à posse de si próprio”.
Esse tempo não é vazio: ele é
povoado por exercícios, por tarefas práticas, atividades diversas.
Ocupar-se de si não é uma sinecura. Existem os cuidados com o corpo, os
regimes de saúde, os exercícios físicos sem excesso, a satisfação, tão
medida quanto possível, as necessidades. Existem as meditações, as
leituras, as anotações que se toma sobre livros ou conversações ouvidas,
e que mais tarde serão relidas, a rememoração das verdades que já se
sabe mas de que convém apropriar-se ainda melhor. Marco Aurélio fornece,
assim, um exemplo de “anacorese em si próprio”: trata-se de um longo
trabalho de reativação dos princípios gerais e de argumentos racionais
que persuadem a não deixar-se irritar com os outros nem com os
acidentes, nem tampouco com as coisas.
Tem-se aí um dos pontos
mais importantes dessa atividade consagrada a si mesmo. Ela não
constitui um exercício da solidão; mas sim uma verdadeira prática
social. E isso, em vários sentidos. Mas toda essa aplicação a si não
possuía como único suporte social a existência das escolas, do ensino e
dos profissionais da direção da alma; ela encontrava, facilmente, seu
apoio em todo o feixe de relações habituais de parentesco, de amizade ou
de obrigação. Quando, no exercício do cuidado de si, faz-se apelo a um
outro, o qual advinha-se que possui aptidão para dirigir e para
aconselhar, faz-se uso de um direito; e é um dever que se realiza quando
se proporciona ajuda a um outro ou quando se recebe com gratidão as
lições que ele pode dar. Acontece também do jogo entre os cuidados de si
e a ajuda do outro inserir-se em relações preexistentes às quais ele dá
uma nova coloração e um calor maior. O cuidado de si – ou os cuidados
que se tem com o cuidado que os outros devem ter consigo mesmos –
aparece então como uma intensificação das relações sociais. Sêneca
dedica um consolo à sua mãe, no momento em que ele próprio está no
exílio, para ajudá-la a suportar essa infelicidade atual e, talvez, mais
tarde, infortúnios maiores. O “cuidado de si” aparece, portanto,
intrinsecamente ligado a uma espécie de “serviço da alma” que comporta a
possibilidade de um jogo de trocas com o outro e de um sistema de
obrigações recíprocas.
Destaca-se:
Os filosofos gregos valorizavam bastante o conceito do cuidado de si.
Pedagogia política erótica (amizade)
É preciso primeiro cuidar de si, para poder cuidar do outro.
- A noção de desaprender.
- Alternativa Etico-Politica
- Auto-administração
- Aperfeiçoamento
- Governo de si
Cuidado de si: retorno a si mesmo e ocupar-se consigo mesmo.
Cuidado de si exige uma técnica de si:
- Tarefa constante diária
- Antes de dormir reflita sobre o que você fez no dia
- Meditações
- Exame de consciência
- Dietética
Ocupar-se consigo mesmo:
- Ser amigo de si mesmo
- Ter privacidade
- Desaprender
- Desocupar-se das coisas inuteis
Filosofia é terapia da alma.
"Eu estou a disposição tanto do pobre como do rico, sem distinção [...] podeis reconhecer que sou bem um homem dado pelo Deus à cidade por esta reflexão: Não é conforme à natureza do homem que eu tenha negligenciado todos os meus interesses [...] para me ocupar do que diz respeito a vós [...] para persuadir cada um a tornar-se melhor." Sócrates.
- Lembrem-se do post de Alan: http://subjetividadescompatilhadas.blogspot.com.br/2012/03/michel-foucault-no-globo-ciencia.html
- Leiam um pouco mais em: http://www.espacoacademico.com.br/073/73damasio.htm
Fontes: http://secundoneto.blogspot.com.br/2008/03/prolegmenos-sobre-o-cuidado-de-si-de.html
Isabela de F.