Como o ser o humano buscou resolver seus questionamentos durante os
vários períodos da história?
De onde vim? Para onde vou? Quem eu
sou?
Essas três indagações ao longo da
história humana foram levantadas e houve uma tentativa de elucidação às possíveis
respostas. O primeiro período que compreende este início de explicações é a primeira fase do período cosmológico.
Neste período, tudo é elucidado através do sobrenatural, isto é, toda
realização no mundo era de ordem exterior, os deuses eram responsáveis por tudo
que ocorria, e não poderia existir contestação, havia apenas o decorrer da
tradição.
A segunda fase do período cosmológico
é tentativa de romper com o paradigma de ordem sobrenatural. Na Grécia Antiga,
com os primeiros filósofos, houve a busca de um princípio fundamental para
explicar o universo, ainda com a interpreção no cosmo, eles diziam que tudo
parte de um princípio único. A citar, Tales de Mileto – elemento água;
Pitágoras – Número; Heráclito, também seguindo o paradigma da época, fogo. Fogo
é um elemento que indica mudança. Essa abordagem Heraclitiana é fundamental para o estudo da psicologia na
atualidade.
Outra fase de construção subjetiva da
humanidade foi denominada Antropocêntrica. Neste período, as indagações
mencionadas no início da composição passam a ser de ordem interior: “O homem é
a medida de todas as coisas.” Algo que ilustra muito bem a transição para o
período antropocêntrico é um trecho retirado do livro a história da escrita. “
Hipócrates foi a primeira pessoa que ao ver um homem tendo um ataque epiléptico
afirmou que aquilo não seria uma manifestação dos deuses, era uma manifestação que
deveria ser entendida e interpretada no próprio homem”. Temos, nessa passagem,
um exemplo de mudança paradigmática e os ideais subjetivos da época
antropocêntrica. Ainda no antropocentrismo, três pensadores que merecem
destaque são: Sócrates, fundador da ética no ocidente, que contestou as
convenções de ordem humana e tentou entender a natureza destas convenções.
Platão, pensador que trouxe a ideia de homem dualista: corpo e mente. Onde a
mente seria a parte mais privilegiada – única fonte de razão e conhecimento.
Aristóteles que, diferentemente de Platão, valorizou os sentidos para se buscar
a razão. Na Grécia Antiga, o trabalho manual era desprivilegiado, isso pode ser
um viés de explicação para a valorização do pensamento crítico. Só as pessoas que
gozavam de tempo possuíam o privilégio de pensar e designar a melhor forma de
vida.
Depois da invasão da Grécia, os
ideais da cultura grega são difundidos por Alexandre. Mesmo difundido a cultura
grega, ele permitiu o desenvolvimento de diversas práticas religiosas e com a sua morte os ideais gregos entram em
declínio e volta à tendência a religiosidade e o maior e o maior
desenvolvimento de seitas na época.Com a expansão do império romano, uma das
seitas, o cristianismo, se torna a religião oficial do império. Começa aí um
período que é denominado de teocêntrico.
O período teocêntrico pode ser
entendido com uma releitura da primeira fase do período cosmológico, mas agora
existe uma instituição que é a igreja católica. A igreja é respaldada pelos
ensinamentos da bíblia – livro sagrado que contém a única fonte de verdade.
Durante séculos o paradigma cristão
esteve absoluto. Alguns dos fatores que contribuíram para abalar as “verdades”
foram: A peste negra – que dizimou mais de 1/3 da população europeia; a Reforma
Protestante – liderada por Lutero propondo uma nova interpretação da bíblia; os
conhecimentos de Copérnico que afirmavamm que o sol é o centro do universo e não a
terra como era dito. As ideias de Copérnico foram comprovadas por Galileu
depois da invenção do telescópio. Outro fato também que pode ter contribuído
para o declínio da igreja católica foi o abuso de poder do clérigo. Depois
desses abalos na igreja abre-se terreno para uma nova abordagem paradigmática,
surge o Renascimento.
O Renascimento é uma fase de grande
efervescência cultural. Há o desenvolvimento amplo de áreas como a literatura,
as artes, a medicina, a biologia, a astronomia, etc. O homem passa a ser o
centro mais vez na história e, agora, valor máximo de tudo. Toda esta explosão
de conhecimento abre portas para os ideais iluministas. Os ideais iluministas
faziam uma crítica à aristocracia por toda ostentação vivenciada pela elite
dominante da época. Neste contexto, há um ambiente fértil para a revolução
francesa que pregava os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. A
revolução francesa é nada menos do que uma revolução burguesa. Ainda neste
ambiente, podemos mencionar a mudança do modelo feudal para o modelo
capitalista. O modelo capitalista é liderado pelos burgueses. Quando a
burguesia toma o poder é inaugurada a modernidade.
A revolução industrial pode ser o
ápice para o ideal de homem moderno. Nesta revolução há a necessidade de
produção em larga escala. Os homens, mulheres e crianças trabalham como
máquinas. Há uma perda da noção do todo, pois anteriormente os artesãos tinham
conhecimentos de todo o processo de fabricação do produto, mas para o momento
isso seria uma perda de tempo e diminuição nos lucros. A modernidade prometeu
progresso e uma melhor qualidade de vida tendo a ciência como única fonte de
verdade, mas todo progresso prometido não foi cumprido. Em busca desta melhor
qualidade de vida há um incentivo para alcançar o ideal prometido. E nesta
idealização, as pessoas não têm tempo de refletir sobre sua situação em vida.
Na modernidade ainda havia produções de bens duráveis, mas como desenvolveria a
rotatividade de produtos no comércio se os bens fossem duráveis? É
preciso desenvolver a necessidade por consumir ainda mais. Temos, agora, os
princípios para o desenvolvimento de outra etapa da construção subjetiva da
humanidade – a Pós-modernidade ou Hipermodernidade, a época em que estamos
inseridos, cujo lema é o consumir compulsivamente.
Haverá na Hipermodernidade o exagero
da modernidade. A cultura é de ordem hedonista. Isto é, o que importa realmente
é o presente. Um exemplo clássico da Hipermodernidade é facilitação para
comprar atualmente. Exemplificando: se você fizer uma compra usando o cartão
Hipercard, o valor da sua compra pode ser dividido em 5, 8 , 12 vezes ou mais.
E cada fatura pode ser reparcelada em até 24 vezes. Exemplo: Uma fatura que
custou 89 reais passa a valer parcelada 159 reais. Observamos o consumo
exacerbado e um lucro enorme para os empresários do setor econômico. Há uma
forte propaganda para fazer escolha. Veja o texto que fala dessa “interessante”
maneira de parcelamento.
“Aproveite mais essa facilidade
que o seu Hipercard oferece. Com o
Parcelamento da Fatura você pode dividir o valor total de sua fatura em até 24
vezes fixas. Assim, você fica sabendo, desde a contratação, quanto vai pagar
por mês e por quanto tempo e os encargos já vêm calculados nas parcelas. Com
isso, você ganha tempo, simplifica a sua vida e organiza suas contas.”
Consumir ou não consumir depois de uma grande
oportunidade desta?
Todo este contexto capitalista
contribui fortemente para o empobrecimento da subjetividade humana. Cada vez
mais, embalados pelos recursos tecnológicos, as pessoas tentam substituir o
virtual pelo real por ser mais agradável, conquistador e interessante, tal
postura contribui para uma maior individualização e do ser humano e problemas
de ordem afetiva aumentam. E os questionamentos de onde vim, para onde vou e
quem eu sou, são menos repensados, pois só
o presente é o tempo ideal para ser vivido. Não é interessante perder
tempo com perguntas que não nos levarão a lugar nenhum. É um eterno viva à
cultura hedonista.
Depois deste sucinto relato sobre a
construção subjetiva no ser humano na história, fizemos a perguntas que
iniciaram esta composição escrita e oferecemos nossas respostas.
- De onde vim?
- Não sei.
- Para onde vou?
- É mistério.
Quem eu sou?
O poema de Mário de Sá Carneiro,
contemporâneo de Fernando Pessoa, descreve muito bem.
“Eu não sou eu nem sou o outro
Sou qualquer coisa de intermédio
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro.”
Alan Nascimento e Adelnise Gonçalves